Depois de anos escutando e recolhendo em minha memória uma série de Contos de Orixás transmitidos oralmente pelos mais velhos, decidi publicá-los no blog da Biblioteca Abdias Nascimento e no facebook para que, deste modo, eu possa compartilhar as lições de uma Cultura que, ao contrário da nossa sociedade individualista e competitiva, ensina o respeito às Particularidades, Limites, Defeitos e Qualidades do outro. Resolví iniciar esta trajetória por duas histórias que ouví de uma velha Iyá e que me recordo sempre nos momentos de dificuldade para que eu não Desanime, e nos momentos de Glória para que eu não seja acometido pela soberba.
Segue a primeira história:
Obará Mèjí era o mais pobre de todos os Odú e, apesar de ser um homem justo e caridoso, era rejeitado e discriminado pelos demais. Nunca ficava sabendo dos acontecimentos do Orún e só era lembrado quando não tinham mais a quem recorrer. Um certo dia, Olòórún, o Deus dos Céus, decidiu realizar uma grande festa no Orún na qual ele iria repartir com os 16 Odú toda a sua riqueza. Apenas Obará não ficou sabendo disso. No dia da festa, os 15 Odú se vestiram com as roupas mais caras, escolheram os melhores perfumes e partiram em direção à casa de Olòórún. No caminho, visto ser aquela caminhada muito longa, sentiram sede e, por não terem outra alternativa, foram bater à porta de Obará que os recebeu com grande pompa e mesmo com pouco dinheiro em casa, mandou sua esposa ir à feira, lhes oferecendo um grande banquete com muita comida e bebidas. Ao serem interrogados sobre as razões de tamanha comitiva, os Odú desconversaram e partiram. Chegando à casa de Olòórún, ele os recebeu com as devidas honras e entregou a cada um uma abóbora. Decepcionados, retornaram resmungando e criticando a atitude do Rei dos Céus. Como podia ele, com tamanha riqueza, ofertar para os Odú apenas abóboras? No caminho de volta, mais uma vez sentiram sede indo recorrer novamente à casa de Obará. Como ocorreu anteriormente, este os recebeu com honras e ofertou tudo o que restava em sua dispensa. Saciados, partiram sem nem agradecer e, com desprezo, entregaram-lhe as abóboras já que para eles elas não teriam nenhuma serventia. Horas mais tarde, ao sentir fome, Obará pediu para que sua esposa cozinhasse as abóboras, que seriam seu alimento pelos próximos meses. Ao partí-las, Obará percebeu que dentro de cada uma delas existia toda a riqueza do Orún, tornando-se ele o mais rico de todos os 16 Odú.
Para concluir, só me resta citar um provérbio que ouví de uma outra senhora, desta vez católica, citando um texto bíblico: “A Palavra não retorna para a Boca do Pai sem causar Efeito em Nós!”
Obrigada pela história, eu estou me sentindo assim esses dias, como se as pessoas só recorressem a mim quando não há outra alternativa. Espero que eu seja justa também para receber a recompensa no final. Abraços
ResponderExcluirObrigado pelo comentário, Dira.
ExcluirEsse tipo de atitude a qual você se refere tem se generalizado cada dia mais. Espero que isso possa mudar.