O Censo Demográfico 2010 – Características Gerais da População, Religião e Pessoas com Deficiência, divulgado na última semana pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que apesar de já ser predominante no Brasil, a população negra ainda sofre com a desigualdade racial. Em comparação com o Censo realizado em 2000, o percentual de pardos cresceu de 38,5% para 43,1% (82 milhões de pessoas) em 2010. A proporção de pretos também subiu de 6,2% para 7,6% (15 milhões) no mesmo período. Esse resultado também aponta que a população que se autodeclara branca caiu de 53,7% para 47,7% (91 milhões de brasileiros). O analista socioeconômico do IBGE, Jefferson Mariano, afirma que essa mudança de cenário faz parte de uma mudança cultural que vem sendo observada desde o Censo de 1991. “Muitos que se autodeclaravam brancos agora se dizem pardos, e muitos que se classificavam como pardos agora se dizem pretos. Isso se deve a um processo de valorização da raça negra e ao aumento da autoestima dessa população”, diz. O analista, no entanto, afirma que “o Brasil ainda é racista e discriminatório”. “Não é que da noite para o dia o país tenha deixado de ser racista, mas existem políticas. As demandas (da população negra), a questão da exclusão, tudo isso começou a fazer parte da agenda política”, afirma Mariano. Nível superior – O novo volume do Censo Demográfico de 2010 apontou a grande diferença que existe no acesso a níveis de ensino pela população negra. No grupo de pessoas de 15 a 24 anos que frequentava o nível superior, 31,1% dos estudantes eram brancos, enquanto apenas 12,8% eram pretos e 13,4% pardos. Para o presidente da Fundação Cultural Palmares (FCP), Eloi Ferreira de Araujo, a política das cotas nas universidades brasileiras é um dos caminhos mais importantes para que esses números não se repitam no próximo Censo. “A construção da igualdade no Brasil está diretamente ligada à educação”, afirma. “Ao aprovar a constitucionalidade das cotas, o STF já deu início a essa longa caminhada, que faz valer a nossa Constituição e o Estatuto da Igualdade Racial em sua plenitude”, completa. Mercado de trabalho – A nova publicação também traz um dado que não é mais novidade: os brancos continuam recebendo salários mais altos e estudando mais que os negros (pretos e pardos). Segundo o levantamento, essa realidade é ainda mais acentuada na região Sudeste, onde os rendimentos recebidos pelos brancos correspondem ao dobro dos pagos aos negros. A menor diferença é observada na região Sul, onde a população branca ganha 70% mais que aquela que se autodeclarou preta. Jefferson Mariano aponta que esses indicadores pouco mudaram com o passar dos anos. “Nós até observamos uma redução da desigualdade nesse aspecto, mas a queda é muito tímida”, diz. População negra nos estados brasileiros – A distribuição por raça entre os Estados refletiu padrões históricos de ocupação e movimentos relacionados à dinâmica econômica, segundo o IBGE. A população de pardos, por exemplo, é mais comum no Nordeste e no Norte (com destaque para o Pará, com 69,5% de pardos), enquanto os pretos estão mais presentes nos Estados da região Nordeste, principalmente na Bahia, onde 17,1% se autodeclararam pretos (2,4 milhões de pessoas). O segundo Estado com o maior número de pessoas que se dizem pretas, no entanto, está na região Sudeste: o Rio de Janeiro tem 12,4% de pretos, o que corresponde a 2 milhões de pessoas. No Estado de São Paulo, a maioria se classificou como branca (63,9%), seguida pela população parda (29,1%) e preta (5,5%). Pessoas com deficiência – Em 2010, quase 46 milhões de brasileiros, cerca de 24% da população, declarou possuir pelo menos uma das deficiências investigadas (mental, motora, visual e auditiva). Desse número, a maioria é formada por mulheres, inclusive nos grupos de cor ou raça, onde quase 1/3 (um terço) das mulheres negras possui alguma deficiência (23,5% dos homens e 30,9% das mulheres, uma diferença de 7,4 pontos percentuais). Fontes: Portal UOL e IBGE.
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